Durante a brassagem da Russian Imperial Stout tivemos algumas brejas para degustar, duas delas eram da Cervejaria Canoinhense (Mocinha e Nó de Pinho), mas estas não foram abertas no dia (muito trabalho, sabe?) e resolvi abrir uma delas ontem, já que a namorada estava empolgada provando as levas da H2HA e da RIS…
No melhor momento senta que lá vem história, a Cervejaria Canoinhense é um museu vivo da cerveja no Brasil (<voz do silvio> nunca fui, mas minha filha número 3 disse que é muito boa! </voz do silvio>). Fundada em 1908 pelo pai de Rupprecht Loeffler (faleceu em janeiro deste ano aos 93 anos), esta cervejaria caseira mantem a receita e equipamentos vindos do velho mundo e segue a lei de pureza alemã.
São poucas as cervejas produzidas pelos descendentes do Seu Rupprecht, quatro Ales que utilizam a mesma levedura desde o início da produção, quase uma lambic…
Ok, eu explico! As cervejas que você costuma beber (lagers e ales) usam cepas (leveduras, fermentos cervejeiros, bactérias…) cuidadosamente selecionadas. Existe um cuidado muito grande para que nenhum outro micróbio entre no mosto (cerveja antes de fermentar) e contamine a produção. O que é diferente nas Lambic. Essas brejas contam com leveduras presentes no meio onde a cervejaria se encontra e normalmente são fermentadas em tonéis abertos sem a preocupação com a contaminação. Normalmente as lambics são as cervejas com frutas… Mas isso é pra outro post.
Voltando à produção do bom velhinho… Não, não é o Papai Noel.
Domingão à tarde, já haviamos tomado uma H2HA pra testar a carbonatação, uma RIS pra Sheila fazer careta (hehehehe, tá forte mesmo) e pensei, por que não abrir uma das brejas que o Regis trouxe?
Cerveja Mocinha, American Amber Ale, 2% ABV e só… Na verdade tive que achar o estilo dessa breja na internet depois de prova-la.
Aberta a garrafa, não ouvi o famoso pssssss… Cadê o gás? Será que teve algum problema na carbonatação? Resolvi servir e ver no que dava, vai que eu não prestei atenção no barulho (estava assistindo Roda a Roda Jequiti nessa hora)…
Cerveja no copo, clara demais pra ser uma Amber Ale, nenhuma espuma, colarinho sumiu antes que eu conseguisse abrir o iPhone pra tirar a foto.

Passei o copo pra Sheila dar o primeiro gole. “Acho que você não vai gostar…” Na hora já pensei, deve ser muito doce ou frutada. Que nada… Azeda que a única coisa que passou na minha mente foi que a cerveja estava estragada.
A cerveja é doce, mas azeda… Aquele azedo de estragado, sabe? Principalmente no aroma. Isso é o que as leveduras centenárias da Canoinhense produzem… Acho que as cervejas do tempo da vovó menina deveriam ser parecidas com isso.
Fiquei curioso e fui pra internet buscar outras avaliações, alguns dos adjetivos que li foram: ruim, intragável, horrível e “beberia litros”. Pronto, eu e mais uns outros azarados pegamos lotes ruins dessa breja, certeza! Ou será que não tenho um paladar apropriado para degustar esse tipo de breja?
Achei também o video do Bytes & Beer que prova justamente a Mocinha…
Depois de ver o video eu realmente vi que tinha algum problema comigo… Falei com o responsável pelo presente (dizem que não pode reclamar de presentes, mas fui pelo menos entender…). Abaixo a conversa via twitter…
@BeerHacking: cara, não é possível… Desculpa, eu agradeço o presente, mas é ruim demais!
@regis_mello: Eu é que peço desculpa! A intenção era ver a sua reação, com essa breja, como não degustamos aquele dia ficou como surpresa… hehehe
@regis_mello: Acho que é assim em parte devido a cepa quase centenária que usam, também porque usam a mesma nas três brejas que fazem…
@BeerHacking: é… mas sei lá… Se eu soubesse o que esperar talvez o choque fosse menor.
@regis_mello: Não conheço ninguém que goste dessa breja… ninguém que tome uma garrafa dela… é um bom exemplo de como uma breja pode ser ruim…
@BeerHacking: ah seu feladaputa! obrigado por avisar! hahahahahahha
@regis_mello: Nada com uma boa experiência de como um breja pode te surpreender de forma negativa…
@regis_mello: O pior é que você acha que tem algo errado com você, a breja não deve ser ruim assim ou deu algo errado na produção dessa leva…
@regis_mello: E você prova de novo e de novo, até que alguém diz para você que é assim mesmo… Vivendo e aprendendo… Degustando e aprendendo… hahaha
Fiquei realmente confuso, não entendi quem estava errado. Dois mestres falando bem, outras pessoas reclamando… Porra, vou abrir a outra breja e ver no que dá.
Nó de Pinho, uma Kulmbach (na verdade é uma Schwarzbier só que Ale, Kulmbach é a cidade famosa por esse tipo de breja, se estiver errado me corrijam nos comentários) com menos de 3,2% ABV…
Garrafa aberta, ótimo gás, servida com espuma abundante formando um bonito colarinho e aquele aroma azedo das cepas… Ê maravilha! Mas tomara que o torrado dos maltes e o amargo do lúpulo matem esse aroma e sabor!

A cor é muito bonita, a espuma formando o colarinho também, mas a história é a mesma que a Mocinha. Gente que ama, diz ser uma ótima experiência, gente que, como eu, não gostou nada dessa cerveja.
Em resumo, quer provar? Acho que vale a pena para matar a curiosidade, viajar ao passado cervejeiro ou coisas do gênero. Mas para curtir em casa ouvindo um rock and roll? Nem a pau! Quando eu tomei essa breja eu lembrei do Seu Madruga quando comeu os insetos e mandando o chaves comprar doce pra tirar o gosto ruim da boca.
Que post longo pra falar de duas brejas ruins! 😀